A vaginite aeróbica apresenta sintomas clínicos semelhantes à vaginose bacteriana, porém, é causada por diferentes microrganismos e, por isso, pode não responder aos mesmos tratamentos.
Pouco falada e conhecida, a vaginite aeróbica (VA) representa uma importante condição vaginal, associada a diversos sintomas indesejados e podendo causar sérios riscos à saúde feminina, especialmente durante gestações.
Os dados de incidência da VA ainda são escassos e preliminares, mas um estudo reportou que a prevalência de VA situa-se entre 7 a 12% em relação a vaginose bacteriana, por exemplo.
A vaginite aeróbica surgiu quando pesquisadores perceberam que em determinadas condições, algumas mulheres apresentavam uma microbiota vaginal dominada por microrganismos aeróbicos, frequentemente de origem intestinal e assim, não poderiam ser classificadas com perfil de vaginose bacteriana.
Etiologia da vaginite aeróbica
A vaginite aeróbica é caracterizada pela redução na proporção ou ausência de Lactobacillus e predomínio de microrganismos comensais entéricos aeróbicos ou patogênicos, incluindo Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermis, Streptococcus sp., Enterococcus faecalis, Klebsiella spp. e Acinetobacter spp.
Ainda não está claro entre a comunidade científica se a alteração da microbiota vaginal durante a VA é causa ou consequência, uma vez que muitos acreditam que a VA é um distúrbio imunológico e não uma infecção bacteriana estrita.
Diagnóstico e sintomatologia da vaginite aeróbica
O diagnóstico de VA utilizando a conduta padrão pode ser extremamente complexo, visto que os sintomas clínicos são bem semelhantes à vaginose bacteriana, por vezes até parecidos com a tricomoníase.
É possível ocorrer de forma assintomática também, mas de maneira geral os principais sintomas são:
Aumento da secreção vaginal e do pH vaginal;
Secreção vaginal purulenta e com coloração amarelada ou amarelo-esverdeada;
Secreção vaginal com ou sem espuma;
Secreção vaginal com odor desagradável (teste negativo de KOH);
Disúria e dispareunia.
Em casos mais graves, a VA pode evoluir para a chamada vaginite inflamatória descamativa, que é caracterizada pela pela presença de corrimento de longa duração e quantidades consideráveis, acompanhado de intenso desconforto (dor, queimação, ardência). Durante o exame ginecológico, geralmente observa-se um processo inflamatório de intensidade variável, podendo apresentar lesões na mucosa genital.
Vaginite aeróbica e gestação
A VA sem diagnóstico ou tratamento correto pode causar complicações perinatais, como parto prematuro, ruptura prematura de membranas e infecções fetais em mulheres grávidas.
Durante a VA, certas bactérias produzem a enzima sialidase, que afeta os componentes de defesa do hospedeiro, como a IgA. Essas enzimas estimulam a liberação de ácido siálico das mucinas e das células epiteliais da mucosa. Além disso, a VA parece estar associada a níveis elevados de algumas citocinas, incluindo IL-1b, IL-6 e IL-8, que são fatores de risco conhecidos para resultados negativos na gravidez. A VA, mesmo quando assintomática, pode aumentar o risco de corioamnionite e resultar em uma taxa de mortalidade neonatal de 25,0 a 90,0% devido à sepse neonatal congênita. Apesar do fato de que alguns estudos analisaram a ligação entre VA e resultados da gravidez, ainda é pouco compreendido e há poucos estudos que abordaram a diversidade microbiana de VA em mulheres grávidas.
Ao contrário da vaginose bacteriana, a VA não responde bem aos tratamentos com metronidazol que é comumente utilizado. Fluoroquinolonas, como Ciprofloxacina e Ofloxacina, têm sido utilizadas no tratamento, pois têm pouco efeito na microbiota protetiva, permitindo uma rápida recuperação da VA.
A Canamicina também tem efeito sobre as bactérias entéricas Gram-negativas, bem como sua capacidade de poupar lactobacilos vaginais. Foi relatado que para uma melhora rápida e de curto prazo para sintomas graves, a terapia sistêmica com Moxifloxacina pode ser usada, especialmente em infecções por Streptococcus do grupo B e para Staphylococcus aureus resistente à meticilina.
É importante ressaltar que o uso inadequado de antimicrobianos pode levar ao desenvolvimento de resistência bacteriana, por isso a avaliação médica é indispensável.
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Biofeme e vaginite aeróbica
Com o auxílio do exame que analisa a microbiota vaginal, o BIOfeme, podemos facilmente detectar a presença desses microrganismos e ainda, verificar a proporção relativa dos mesmos.
É importante lembrarmos que, diferentemente dos exames clássicos de PCR, no BIOfeme não é necessário descrever quais microrganismos estamos pesquisando, ou seja, não é uma análise direcionada. Você saberá exatamente qual a composição toda da microbiota vaginal que está sendo analisada, incluindo bactérias e fungos.
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Fontes:
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