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Diagnóstico de Vaginose Bacteriana: critérios de Amsel e escore de Nugent

Saiba como é feito o diagnóstico da vaginose bacteriana e por que exames mais modernos podem trazer resultados mais precisos.

Michele Rode


Por Michele Rode

Farmacêutica, Doutora em Farmácia pela UFSC e Product Manager na BiomeHub.



Neste postblog será abordado:



Os métodos clássicos como os critérios de Amsel e o escore de Nugent são rápidos, de baixo custo e acessíveis. O escore de Nugent ainda é considerado o padrão-ouro para o diagnóstico da Vaginose Bacteriana. No entanto, estes métodos não acompanham os avanços no entendimento do microbioma vaginal, especialmente em contextos complexos, como infecções recorrentes, microbiotas mistas, sintomas inespecíficos ou mulheres na menopausa.


Atualmente, já é possível analisar a microbiota vaginal com maior detalhamento por meio de testes de sequenciamento de nova geração, que identificam a composição microbiana com precisão.

Neste post, revisamos os métodos clássicos para diagnóstico da vaginose bacteriana, a causa mais comum de corrimento vaginal em mulheres em idade reprodutiva, e discutiremos suas limitações e aplicações na prática clínica.


especulo, escova e espátula

Como funcionam os critérios de Amsel?

Os critérios de Amsel são amplamente utilizados por ginecologistas no consultório e se baseiam na avaliação clínica dos sintomas e exame a fresco da secreção vaginal. O diagnóstico de Vaginose Bacteriana é confirmado quando pelo menos três dos quatro critérios estão presentes:


  • Corrimento vaginal característico: branco-acinzentado, homogêneo e aderente às paredes vaginais.

  • pH vaginal elevado: > 4,5.

  • Presença de clue cells: mais de 20% de células epiteliais com cocobacilos aderidos.

  • Teste das aminas (whiff test) positivo: odor fétido (semelhante a peixe) após a adição de hidróxido de potássio (KOH) a 10% à secreção vaginal.


No entanto, os sintomas e as características do corrimento podem coexistir com outras condições ou ser confundidos e nem sempre predizem de forma confiável a causa da vaginite. Entre os principais diagnósticos diferenciais da vaginose bacteriana estão: candidíase vulvovaginal, tricomoníase, vaginite citolítica, vaginite inflamatória descamativa, vaginite aeróbia e causas não infecciosas.




Como funciona o escore de Nugent?

O escore de Nugent é baseado na contagem relativa de três morfotipos bacterianos através da bacterioscopia com coloração de Gram:


secreção vaginal com coloração de Gram


  • Lactobacillus spp.: bastonetes Gram-positivos (indicadores de microbiota vaginal ideal). Quanto mais abundantes, menor a pontuação.


  • Gardnerella vaginalis e Bacteroides spp.: cocobacilos Gram-variáveis ou Gram-negativos (associados à Vaginose Bacteriana). Quanto mais abundantes, maior a pontuação.


  • Mobiluncus spp.: bastonetes curvos Gram-negativos (associados à Vaginose Bacteriana). Quanto mais abundantes, maior a pontuação



A pontuação final varia de 0 a 10:


  • 0 - 3: microbiota ideal.

  • 4 - 6: microbiota intermediária.

  • 7+: sugestivo de Vaginose Bacteriana.


Porém, por se tratar de uma técnica que cora a parede celular de amostras fixadas, a coloração de Gram não é eficaz para detectar microrganismos como:


  • Mycoplasma e Ureaplasma, pois não possuem parede celular e portanto não se coram com o Gram.

  • Chlamydia trachomatis, pois é uma bactéria intracelular obrigatória, não sendo visível na coloração de Gram.

  • Trichomonas vaginalis, um protozoário preferencialmente identificado no exame a fresco pela detecção de flagelados móveis vivos.

  • Candida spp. pode ser visível no Gram, especialmente em casos mais intensos, mas a sensibilidade é baixa.


Portanto, apesar de importante para o diagnóstico de Vaginose Bacteriana, o score de Nugent representa apenas uma parte do microbioma vaginal.

Além disso, a qualidade da análise microscópica depende da preservação da morfologia e composição da microbiota. Enzimas presentes na secreção vaginal e condições ambientais podem fragmentar as bactérias, alterar a integridade da parede celular ou favorecer a proliferação de microrganismos aeróbicos ou contaminantes. Por isso, a coleta deve ser realizada por um profissional treinado, garantindo a quantidade, distribuição e fixação  adequada da amostra na lâmina. Por exemplo, Lactobacillus spp., principalmente L. iners, quando fragmentados podem parecer cocobacilos curtos Gram-negativos e ser erroneamente identificados como Gardnerella vaginalis.




A complexidade da microbiota na Vaginose Bacteriana

Um estudo que utilizou sequenciamento do gene 16S rRNA mostrou que mulheres sem vaginose bacteriana apresentam uma média de 3 espécies bacterianas, sendo os Lactobacillus predominantes. Por outro lado, mulheres com Vaginose Bacteriana apresentam em média 12 espécies bacterianas. As bactérias mais frequentemente associadas à Vaginose Bacteriana incluem: Gardnerella vaginalis, Atopobium vaginae, Megasphaera, Sneathia sanguinegens, Leptotrichia amnionii, Porphyromonas asaccharolytica, Prevotella spp., e os grupos BVAB1, 2 e 3. A análise identificou um total de 35 espécies bacterianas diferentes em mulheres com Vaginose Bacteriana. 


As espécies associadas a Vaginose Bacteriana podem apresentar morfotipos semelhantes, o que pode gerar confusão diagnóstica e impacto no tratamento. Por exemplo:

  •  Atopobium vaginae é um cocobacilo Gram-positivo que pode ser confundido com Gardnerella vaginalis na microscopia. Apesar de ambas estarem fortemente associadas à formação de biofilme e à Vaginose Bacteriana, A. vaginae pode apresentar resistência ao metronidazol.

  • Mobiluncus pode ser confundido com BVAB1 e Sneathia spp., que também são bastonetes curvos Gram-negativos. Porém, BVAB1 e Sneathia podem apresentar resistência ao metronidazol e estão associadas ao risco aumentado de  resultados adversos na gravidez.


Essa complexidade reforça a necessidade de abordagens que combinem a avaliação clínica com exames laboratoriais modernos e sensíveis, que identifiquem de fato as espécies de microrganismos na amostra, garantindo o diagnóstico preciso e o manejo adequado da paciente, evitando tratamentos desnecessários e recorrência das infecções.

Nesse contexto, tecnologias como o Sequenciamento de Nova Geração para análise da microbiota vaginal, permitem:

  • Detecção de bactérias fastidiosas ou não cultiváveis.

  • Direcionamento mais preciso do uso de antimicrobianos e probióticos, com base na identificação de bactérias e fungos ao nível de espécie.

  • Quantificação da abundância relativa entre as espécies.

  • Avaliação de microbiotas complexas ou mistas.

  • Avaliação do tipo de microbioma, o que contribui para entender a suscetibilidade às infecções.

  • Aplicação em amostras auto-coletadas.


Converse com o seu médico sobre como a análise da microbiota vaginal pode ser uma etapa importante no diagnóstico e tratamento dos seus sintomas.




Referências:

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