A doença de Parkinson (DP) é uma doença neurológica progressiva, causada pela degeneração das células de uma região do cérebro chamada substância negra. A substância negra é responsável pela produção de dopamina, um neurotransmissor que, entre outras funções, controla os movimentos. Por isso, essa degeneração afeta as habilidades motoras, o movimento e a função muscular. O Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum, atrás apenas do Alzheimer.
Veja também: O papel do microbioma intestinal na saúde.
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A perda degenerativa de neurônios que produzem dopamina impede que as mensagens normais que controlam nosso movimento sejam enviadas e os sintomas da doença de Parkinson tornam-se aparentes. À medida que o número desses neurônios diminui, os sintomas progridem e surgem novos.
Atualmente sabe-se que o sistema nervoso entérico (SNE) pode estar associado ao desenvolvimento da doença de Parkinson pela presença de inflamação e aumento da permeabilidade intestinal, que foram identificadas em pacientes com diagnóstico positivo para a doença.
Além disso, pesquisadores encontraram nas células nervosas do cérebro de pacientes com DP, depósitos anormais de uma proteína chamada alfa-sinucleína, conhecidas como corpos de Lewy. Os corpos de Lewy são considerados marcadores de morte celular e neurodegeneração.
Curiosamente, os corpos de Lewy também aparecem nas células nervosas produtoras de dopamina do intestino muito antes do aparecimento dos sintomas neurológicos da doença, indicando que a doença de Parkinson pode, de fato, originar-se ali.
O intestino e a doença de Parkinson
Há mais de 200 anos, James Parkinson observou que algumas pessoas que tinham a condição que ele chamou de “paralisia dos tremores” também tinham prisão de ventre. Hoje isso ainda é verdade, e a lista de sintomas cresceu para incluir vários problemas digestivos, como náuseas e constipação.
Frequentemente, esses sinais passam despercebidos e não são associados automaticamente a um distúrbio neurológico. Da mesma forma, é um fato pouco conhecido que as pessoas com doença inflamatória intestinal, como a doença de Crohn e colite ulcerativa, possam ter um risco maior de desenvolver DP.
Entretanto, tais considerações podem ser a chave para identificar manifestações iniciais da doença.
A inflamação geralmente decorre de um desequilíbrio nas bactérias que habitam nosso intestino. A disbiose é uma condição da microbiota intestinal
A disbiose é uma condição da microbiota intestinal em que um ou alguns microrganismos potencialmente nocivos estão presentes em grandes quantidades, criando, portanto, uma situação propensa a doenças, ou resultando em outras perturbações perceptíveis da microbiota, como fezes líquidas, infecções gastrointestinais ou inflamações.
Além disso, a inflamação no intestino e em outros locais tem consequências para o sistema nervoso central. Em pessoas com DP, há evidências de inflamação em todo o corpo com níveis elevados de moléculas pró-inflamatórias, chamadas citocinas, no cólon, cérebro e sistema nervoso central, que podem estar ligadas ao estado da doença.
Mudanças na composição microbiana no intestino podem causar reduções nos metabólitos benéficos que produzimos, incluindo ácidos graxos de cadeia curta. Em particular, o butirato, que mantém o revestimento do intestino e protege contra a inflamação, é menor em pacientes com Parkinson.
Os estudos também mostram que as bactérias produtoras de butirato são menos abundantes em pessoas com DP. Isso é importante porque esses microrganismos mantêm a inflamação intestinal sob controle e fortalecem o revestimento intestinal. Além do mais, essas bactérias produtoras de butirato se comunicam com o sistema nervoso entérico para manter as fezes em movimento pelo cólon.
Então, com menos butirato, os pacientes têm menos evacuações e, consequentemente, um quadro de prisão de ventre. Até 30% das pessoas com a doença apresentam sintomas gastrointestinais, como a constipação, junto com náuseas e vômitos.
Mas há boas notícias. Se a doença começar no intestino, intervenções futuras direcionadas a esse órgão, ao invés do cérebro, podem até ajudar a prevenir ou mesmo controlar a doença de Parkinson.
Coma bem para prevenir a doença de Parkinson
Probióticos, prebióticos e polifenóis podem ser úteis no combate à doença neurológica. Afinal, seu intestino e seu cérebro são conectados pelo eixo intestino-cérebro.
Probióticos
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), os probióticos são definidos como “microrganismos vivos que, ingeridos em quantidades adequadas, têm efeitos benéficos no organismo”.
Esses microrganismos pertencem a diferentes gêneros e espécies, como bactérias e leveduras, que podem contribuir para a manutenção do equilíbrio da nossa microbiota, sendo frequentemente utilizados no tratamento e prevenção de sintomas ou desconfortos digestivos. Essas bactérias podem viver no intestino, onde se desenvolvem com uma dieta rica em fibras, mas você também pode obtê-las de alimentos fermentados como iogurte, kefir e chucrute, bem como de suplementos.
Os probióticos auxiliam a recompor a microbiota intestinal, através da adesão e colonização da mucosa intestinal. Esta ação impede a produção de toxinas ou invasão das células epiteliais, a fina camada de células cuja função é proteger o corpo contra toxinas e bactérias patogênicas.
Eles podem beneficiar o corpo porque podem evitar a disbiose e a inflamação no intestino, equilibrando a composição do microbioma intestinal e mantendo o pH correto do cólon. Se os microrganismos do seu intestino estiverem desequilibrados, eles podem contribuir para a inflamação e a disbiose crônica, que são encontradas em muitas doenças comuns, incluindo Parkinson.
Pesquisas mostram que certas cepas de bactérias consideradas probióticas, como Lactobacillus acidophilus, reduzem significativamente as citocinas pró-inflamatórias e aumentam as anti-inflamatórias. Esses são resultados promissores coletados de um estudo com pacientes nos estágios iniciais da doença de Parkinson.
Outros estudos descobriram que alimentar pacientes com DP com leite fermentado contendo Lactobacillus casei Shirota pode ajudar a aliviar os sintomas gastrointestinais associados à doença. Após cinco semanas, os pacientes relataram melhor consistência das fezes, menos inchaço e menos dor abdominal.
O uso de probióticos no tratamento e controle do Parkinson é um caminho promissor para a pesquisa, mas mesmo a ingestão de alimentos específicos pode ajudar a equilibrar o microbioma intestinal e promover suas funções benéficas.
LEMBRE-SE: A maioria dos probióticos são seguros para a maior parte da população, porém sempre é importante consultar um profissional de saúde. Pacientes que possuem alguma desordem autoimune, enfermidade grave ou crianças pequenas devem sempre consultar um profissional de saúde.
Prebióticos
Os prebióticos são fibras que não são digeridas no intestino delgado e, ao atingir o intestino, aumentam a quantidade de bactérias denominadas benéficas. Esses prebióticos promovem e ativam o metabolismo de bactérias benéficas no trato intestinal e visam modificar a composição do ecossistema intestinal por meio de mudanças nutricionais.
A disbiose é um problema para esses indivíduos e está ligada a problemas digestivos. Os prebióticos podem ajudar a melhorar a inflamação, prisão de ventre e outros problemas ao nutrir bactérias benéficas com funções de promoção da saúde.
E então, é claro, há uma redução de produtores de butirato em pacientes com Parkinson e os prebióticos podem corrigir isso. Portanto, comer alimentos prebióticos como vegetais, frutas, grãos e legumes pode ajudar as bactérias produtoras de butirato a se desenvolverem no intestino e aumentar a quantidade de butirato que produzem.
Polifenóis
Os polifenóis são os antioxidantes mais abundantes no corpo humano, sendo os flavonóides e os ácidos fenólicos os dois tipos principais. Podem ser encontradas em grandes quantidades em alguns alimentos, como chá preto, suco de laranja, vinho tinto, morango e no chocolate amargo.
Esses fitonutrientes protegem o organismo contra os danos dos radicais livres, não apenas no intestino, mas em todo o corpo e até no cérebro. Seu papel protetor é direto e indireto, porque podem regular a composição do microbioma intestinal e mantê-lo saudável.
Os polifenóis promovem o crescimento de bactérias consideradas probióticas, melhorando a saúde do intestino. Isso porque certas espécies produzem ácidos graxos de cadeia curta e vitaminas, enquanto outras aumentam a resistência do revestimento intestinal.
Os probióticos, prebióticos e polifenóis têm o potencial de nos proteger da doença de Parkinson. Isso porque eles podem afetar positivamente a composição do microbioma intestinal, fortalecendo a barreira intestinal e reduzindo a resposta inflamatória. Sendo assim, pacientes com DP podem se beneficiar com estratégias que melhoram a função intestinal.
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Fontes:
Ilustrações: Fonte: Illustration by Icons 8 from Ouch!
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