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Microbioma intestinal e controle glicêmico

Desde o século passado, presenciamos um aumento exponencial de pessoas vivendo com doenças metabólicas como obesidade, diabetes mellitus tipo 2, doença hepática não alcoólica e doenças cardiovasculares associadas. Neste contexto, há cada vez mais informações disponíveis sobre medidas para tentar prevenir essas doenças.

alimentos e nível de glicemia

A Diabetes mellitus (DM), uma síndrome metabólica de origem múltipla, é um crescente problema de saúde pública mundial, independentemente do grau de desenvolvimento dos países.


O Brasil é o 6º país em incidência de diabetes no mundo, com 15,7 milhões de doentes adultos (20 a 79 anos), perdendo apenas para China, Índia, Paquistão, Estados Unidos e Indonésia. Estima-se que a incidência da doença no país em 2030 chegue a 19,22 milhões.


A primeira medida terapêutica no tratamento do diabetes é o controle da glicemia. A dieta é a primeira intervenção utilizadas para reduzir as excursões da glicemia após as refeições.


A resposta glicêmica pós-prandial (RGPP) é definida como a medida do impacto de um determinado alimento sobre o nível de açúcar no sangue, ou glicemia.

Quando está aumentada, a glicemia é considerada o principal fator de risco para o desenvolvimento de síndrome metabólica e diabetes do tipo 2. Logo, a manutenção da glicemia em níveis normais é um ponto crítico na prevenção e controle dessas condições.


A alimentação exerce um papel importante para o desenvolvimento dessas doenças, além de ser um fator determinante para regular os níveis de glicose. Entretanto, as recomendações nutricionais atuais para o controle da glicemia não têm alcançado o sucesso esperado.


Novas evidências demonstram que a RGPP não depende apenas de fatores nutricionais como o teor de carboidrato ou o índice glicêmico de determinado alimento, mas também de:

  • Fatores genéticos,

  • Composição corporal,

  • Microbiota intestinal,

  • Outras características individuais.




Relação da resposta glicêmica com a microbiota intestinal

A microbiota intestinal é considerada potencial peça-chave no contexto nutricional e de controle glicêmico. As mais de mil espécies presentes no trato gastrointestinal desempenham atividades homeostáticas, de regulação do ciclo circadiano, de respostas nutricionais e metabólicas, de proteção contra patógenos e imunomoduladoras.


Essas funções afetam diretamente o metabolismo glicêmico e lipídico. A microbiota tem capacidade de regular o metabolismo da glicose através de vários mecanismos como a modulação da secreção de incretinas, produção de ácidos graxos de cadeia curta, transformação de ácidos biliares e regulação da inflamação do tecido adiposo.


O desequilíbrio do microbioma intestinal, ou disbiose, está associado a uma série de patologias cardiovasculares, neuronais, imunes e metabólicas, incluindo mecanismos que podem desencadear obesidade, síndrome metabólica e diabetes do tipo 2.


Acredita-se que a disbiose pode ser a ligação entre a inflamação crônica e doenças gastrointestinais por meio de diversas vias moleculares. Uma vez descontrolada, a inflamação crônica pode aumentar o risco do desenvolvimento de diabetes do tipo 2, doença do intestino irritável e câncer do colo retal. Portanto, a manutenção de um microbioma intestinal saudável tem potencial interesse clínico.



microbioma intestinal

Pesquisas científicas investigam cada vez mais a relação entre o microbioma intestinal e condições de saúde, incluindo a relação da resposta glicêmica com o microbioma, visando o desenvolvimento de intervenções nutricionais personalizadas. Múltiplos estudos clínicos recentes abordaram o potencial do microbioma para predizer resposta glicêmica, incluindo coortes observacionais, ensaios experimentais não-randomizados ou de braço único, ensaios randomizados paralelos ou com crossover.



Microbioma intestinal como preditor da resposta glicêmica

Em geral, os trabalhos científicos justificam o entusiasmo com o uso do microbioma para guiar intervenções nutricionais personalizadas.


Uma premissa implícita nesses estudos é de que a resposta glicêmica observada equivale ao efeito individual da ingestão de alimentos. Sabe-se, no entanto, que indivíduos expostos repetidamente ao mesmo alimento apresentam respostas variáveis - por pura aleatoriedade ou não. Por exemplo, um indivíduo pode ter resposta diferente por conta da sua alimentação no dia anterior, ou por conta de exposição contínua ao mesmo alimento ou dieta específica, ou até por exercício físico prévio.


Por mais que a variabilidade entre indivíduos possa ser maior do que a variabilidade intra-indivíduo, isso revela uma limitação inerente aos delineamentos dos estudos supracitados: a resposta glicêmica é um desfecho, e não um efeito individual.


Ainda que efeito individual esteja embutido na resposta glicêmica, o desfecho observado depende de ao menos quatro efeitos distintos:

  1. O efeito médio do alimento: alguns alimentos causam maior resposta em média independente do indivíduo;

  2. A variação entre indivíduos: alguns indivíduos têm resposta média maior independente do alimento;

  3. A variação intra-indivíduo: o mesmo indivíduo submetido ao mesmo alimento repetidamente mostra diferentes respostas;

  4. A variação do efeito do alimento específico entre indivíduos: a responsividade intrínseca de um dado indivíduo a uma dada dieta pode ser maior do que para outros indivíduos, i.e., heterogeneidade de efeito de dieta em nível individual.

Estudos futuros ajudarão a compreender melhor o papel dos alimentos na resposta glicêmica individual e sua relação com a microbiota intestinal, ajudando no controle e prevenção de doenças metabólicas.



Aqui na BiomeHub possuímos infraestrutura laboratorial, equipe técnica especializada e uma rede de instituições de pesquisa e de saúde, que permitem a realização de estudos na área de microbioma.




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