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Eixo intestino-músculo: uma forte conexão

O eixo intestino-músculo é uma via de comunicação bidirecional na qual a microbiota intestinal pode influenciar a quantidade e função da massa muscular.


Giulio Kai Saragiotto


Por Giulio Kai Saragiotto

Nutricionista, Mestre e Doutorando em Ciências da Nutrição e do Esporte e Metabolismo | UNICAMP



Dra Adriane Antunes de Moraes

Por Adriane Antunes de Moraes

Nutricionista, Doutora em Alimentação e Nutrição e Pós-Doutorado em Tecnologia de Alimentos | Docente na UNICAMP




Neste postblog será abordado:


 

mulher fazendo musculação

Microbiota intestinal e saúde muscular: qual é a conexão?


A perda de massa muscular é um processo natural do envelhecimento, porém, alguns fatores podem acelerar essa condição, conhecida como sarcopenia. O sedentarismo, uma alimentação pobre em proteínas e nutrientes essenciais, a inflamação crônica e doenças associadas ao envelhecimento estão entre as principais causas desse problema.


A boa notícia é que a sarcopenia pode ser prevenida e até revertida com hábitos saudáveis. E um fator pouco falado, mas essencial para a saúde dos músculos, é a microbiota intestinal.


Estudos mostram que o equilíbrio da microbiota pode influenciar diretamente a síntese de proteínas, a absorção de nutrientes e a redução da inflamação, favorecendo a preservação da massa muscular.


Mas como essa relação funciona na prática? E quais estratégias ajudam a fortalecer tanto a microbiota quanto os músculos?


Vamos entender melhor sobre o impacto da microbiota intestinal na saúde muscular!


 

O que é a sarcopenia?


Sarcopenia é a perda gradual de massa muscular e força, que ocorre principalmente com o envelhecimento (geralmente após os 50 anos de idade) ou como consequência de outras doenças crônicas.


Essa condição impacta diretamente a qualidade de vida, dificultando atividades simples do cotidiano, como levantar-se de uma cadeira, subir escadas e carregar objetos.


Além disso, a sarcopenia aumenta significativamente o risco de quedas, fraturas e perda de independência funcional, especialmente em idosos. A literatura científica atual indica que a redução da quantidade e função da massa muscular está associada ao desenvolvimento de diversas doenças metabólicas, cardiovasculares e osteomusculares.


Estudos demonstram que a prática regular de exercícios físicos resistidos de força, como a musculação, promove o ganho e a manutenção da massa muscular, além de melhorar a força e a funcionalidade.

Da mesma forma, uma alimentação balanceada, rica em proteínas de alto valor biológico e micronutrientes específicos (como vitamina D, cálcio e ômega-3), desempenha papel fundamental na recuperação e preservação da massa muscular.


A identificação precoce da sarcopenia, permite intervenções eficazes que podem melhorar significativamente a qualidade de vida e a independência funcional dos indivíduos.




 

Conexão com a microbiota intestinal


A microbiota intestinal é o conjunto de trilhões de microrganismos, como bactérias, vírus e fungos, que habitam o nosso intestino. Esses microrganismos desempenham papéis essenciais para a saúde humana, como a digestão de alimentos, a produção de vitaminas, o fortalecimento do sistema imunológico e até a regulação do humor e do peso corporal.


Recentemente, evidências científicas sugerem que a microbiota intestinal está relacionada com a função do músculo esquelético em seres humanos, conforme ilustrado na figura abaixo. Essa conexão ocorre por meio do chamado eixo intestino-músculo.


esquema ilustrando a interação entre metabólitos sintetizados pela microbiota e órgãos do corpo humano
*Interação dos metabólitos sintetizados pela microbiota intestinal com os órgãos do corpo humano. Fonte adaptada de Brial et al. (2018).

Cada pessoa possui uma microbiota intestinal única, semelhante a uma impressão digital, e sua composição pode ser influenciada por fatores como:


  • Alimentação (qualidade e diversidade da dieta);

  • Prática de exercícios físicos;

  • Uso de medicamentos, especialmente antibióticos;

  • Estilo de vida, incluindo níveis de estresse e sono.


Uma microbiota em equilíbrio (eubiose) é caracterizada por sua diversidade e filos bacterianos em proporções adequadas, além da presença de bactérias associadas à saúde.


Em contrapartida, quando há um desequilíbrio da microbiota (denominado disbiose intestinal), este pode estar associado a problemas de saúde, como inflamações sistêmicas, doenças metabólicas e redução da capacidade de recuperação muscular.


A produção de metabólitos pela microbiota intestinal ocorre por meio da metabolização de nutrientes oriundos da dieta, como fibras alimentares, polifenóis, proteínas, entre outros componentes.


Entre os metabólitos mais relevantes estão os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), como butirato, propionato e acetato. Esses metabólitos desempenham funções importantes, como: fornecimento de energia para células intestinais, redução de processos inflamatórios e regulação do metabolismo energético e proteico no músculo esquelético

O envelhecimento é um dos fatores que podem causar disbiose intestinal, caracterizado por menor diversidade microbiana, aumento de bactérias proteolíticas e redução de bactérias produtoras de AGCC.


 

Eixo intestino-músculo


O eixo intestino-músculo é uma via de comunicação bidirecional na qual a microbiota intestinal influencia, direta e indiretamente, a quantidade e função da massa muscular, e vice-versa. Algumas hipóteses foram geradas sobre esse eixo:


  • Produção de metabólitos:

Os AGCC exercem funções metabólicas relevantes no músculo esquelético. Segundo pesquisas, eles podem ativar proteínas específicas, como PGC-1α e AMPK, que ajudam o músculo a usar melhor a gordura e o açúcar como fonte de energia. Isso acontece porque os AGCC aumentam a captação e a queima de gordura, melhoram a entrada de glicose no músculo (graças a uma proteína chamada GLUT4) e ajudam a armazenar mais energia na forma de glicogênio muscular. Essas alterações metabólicas podem beneficiar atletas de resistência, como corredores, ao melhorar o desempenho físico e a eficiência energética.



  • Inflamação sistêmica:

A disbiose intestinal pode aumentar a permeabilidade intestinal, permitindo a passagem de componentes bacterianos, como lipopolissacarídeos (LPS), derivados de bactérias Gram-negativas  para a circulação sanguínea. Esses componentes ativam vias inflamatórias e podem resultar em perda de massa muscular e maior risco de sarcopenia.



  • Degradação de aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA):

Na disbiose, ocorre uma degradação acelerada dos BCAA (leucina, valina e isoleucina) no intestino, reduzindo a disponibilidade desses aminoácidos essenciais para a síntese proteica no músculo. Esse processo compromete a regeneração muscular e pode favorecer a diminuição da massa muscular.



  • Disfunção mitocondrial:

A disbiose também pode levar à disfunção mitocondrial, comprometendo a produção de energia (ATP) e elevando o estresse celular no músculo.



  • Degradação de creatina:

A perda da homeostase da microbiota intestinal pode alterar a abundância de algumas espécies bacterianas, resultando em maior degradação de creatina no intestino. A redução da creatina disponível prejudica seu armazenamento muscular, desfavorecendo o metabolismo energético e contribuindo para a atrofia muscular.


Proteínas e gorduras também são metabolizadas pelas bactérias intestinais, gerando produtos que podem ser benéficos ou prejudiciais para o organismo humano.


Um exemplo é a trimetilamina (TMA), gerada a partir de nutrientes ricos em colina e carnitina. No fígado, a TMA é convertida em TMAO (óxido de trimetilamina), um composto associado à inflamação sistêmica e ao comprometimento do funcionamento do miocárdio em seres humanos.

 

Microbiota intestinal como estratégia para recuperação muscular


Intervenções voltadas para o restabelecimento da homeostase da microbiota intestinal são consideradas tratamentos promissores para a prevenção e o tratamento da sarcopenia, especialmente em populações idosas.


A alimentação desempenha um papel fundamental nesse processo, uma vez que os tipos de alimentos consumidos se relacionam com diferentes espécies bacterianas, influenciando a produção de metabólitos diversos.


Uma dieta saudável e variada contribui para a manutenção da eubiose intestinal, favorecendo a síntese de metabólitos benéficos e, consequentemente, auxiliando na preservação da função e quantidade de massa muscular, bem como da saúde geral do organismo.


Além disso, alimentação rica em fibras alimentares, frutas, vegetais, grãos integrais e alimentos fermentados, aliada à redução do consumo de alimentos ultraprocessados, representa um excelente ponto de partida para a promoção de uma saúde intestinal equilibrada.





 

Referências:

BRIAL, Francois et al. Implication of gut microbiota metabolites in cardiovascular and metabolic diseases. Cellular and molecular life sciences, v. 75, p. 3977-3990, 2018.


FRAMPTON, James et al. Short-chain fatty acids as potential regulators of skeletal muscle metabolism and function. Nature metabolism, v. 2, n. 9, p. 840-848, 2020.


KALYANI, Rita Rastogi et al. Age-related and disease-related muscle loss: the effect of diabetes, obesity, and other diseases. The lancet Diabetes & endocrinology, v. 2, n. 10, p. 819-829, 2014.


LIU, Chaoran et al. Understanding the gut microbiota and sarcopenia: a systematic review. Journal of cachexia, sarcopenia and muscle, v. 12, n. 6, p. 1393-1407, 2021.


MANCIN, Laura et al. Optimizing microbiota profiles for athletes. Exercise and Sport Sciences Reviews, v. 49, n. 1, p. 42-49, 2021.


ZHANG, Ting et al. Gut microbiota as a promising therapeutic target for age-related sarcopenia. Ageing research reviews, v. 81, p. 101739, 2022.


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