Saiba mais sobre como as interações sinérgicas ou competitivas entre as bactérias podem influenciar o processo cariogênico.
O que é a cárie dentária?
A cárie dentária é uma doença multifatorial e crônica causada pela interação complexa entre bactérias orais, dieta e hospedeiro, a qual afeta a estrutura dos dentes, resultando na formação de cavidades.
A relação de bactérias que compõem a placa bacteriana com os carboidratos da dieta resulta na produção de ácidos que danificam o esmalte dental. A placa bacteriana é um biofilme microbiano aderido à superfície dos dentes.
Para que haja a formação da placa bacteriana, é necessária uma série de etapas, iniciando com a adesão de bactérias primárias, como Streptococcus mutans, seguida pela colonização de outras bactérias, como Lactobacillus spp. e Actinomyces spp. A interação entre essas bactérias desempenha um papel crucial na progressão da doença e é isso o que chamamos de interações polimicrobianas.
Estudos recentes mostram que as interações polimicrobianas podem alterar a composição e a virulência da microbiota oral, influenciando a saúde bucal. A interação sinérgica entre diferentes espécies bacterianas pode favorecer a produção de ácidos cariogênicos, maior capacidade de aderência à superfície dental e formação de biofilmes mais resistentes. Além disso, as bactérias cariogênicas podem promover o crescimento de outras espécies bacterianas através da produção de fatores de crescimento.
Observe o esquema abaixo que ilustra a formação do processo cariogênico.
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Conheça algumas espécies associadas à cárie dentária
Streptococcus mutans
S. mutans é uma bactéria gram-positiva considerada a principal bactéria cariogênica da cavidade oral. Esta espécie possui a capacidade de formar biofilmes aderidos à superfície dos dentes que são altamente estruturados e protegem as bactérias da ação do sistema imunológico e de agentes antimicrobianos.
Além disso, S. mutans é capaz de metabolizar os açúcares da dieta em ácidos, especialmente em ácido lático, por meio da fermentação. Esses ácidos diminuem o pH no meio bucal, levando à desmineralização do esmalte dental.
Estudos mostraram que a S. mutans é capaz de sobreviver e prosperar nas condições de baixo pH produzido pela metabolização do açúcar, inibindo o crescimento de outras bactérias orais e assim favorecendo a sobrevivência de bactérias do gênero Streptococcus.
Streptococcus sobrinus
S. sobrinus é outra espécie bacteriana comumente associada à cárie dentária, sendo que a simbiose desta com outras bactérias cariogênicas facilita o desenvolvimento da cárie.
Essa bactéria pertence ao mesmo gênero do Streptococcus mutans e tem a capacidade de metabolizar os açúcares da dieta, produzindo ácidos que desmineralizam o esmalte dental e contribuem para o desenvolvimento da cárie.
Esta espécie tem sido relatada como sendo menos sensível a alguns agentes antimicrobianos, geralmente, utilizados para tratar a cárie dentária. Isso pode ter implicações no desenvolvimento de estratégias terapêuticas para controlar a progressão da doença.
Streptococcus sanguinis
Embora Streptococcus sanguinis seja conhecido por sua participação na saúde oral, sua relação com a cárie dentária é um tema em discussão na literatura científica.
O peróxido de hidrogênio produzido por S. sanguinis pode alterar o pH na cavidade oral, levando a um aumento ou diminuição de bactérias cariogênicas, influenciando assim na progressão da cárie.
Quando o pH é reduzido, bactérias dominantes resistentes a ácidos, como S. mutans, Lactobacillus e S. anginosus, são mais propensas a crescer e se reproduzir, enquanto a proliferação de S. sanguinis diminui devido a falta de capacidade de crescer neste tipo de ambiente.
Prevenção
A prevenção da cárie dentária deve levar em consideração as interações polimicrobianas. Medidas de higiene oral, como escovação adequada e uso de fio dental, são essenciais para a remoção da placa e redução da carga bacteriana na cavidade oral.
Estudos mostram que a escovação regular e correta dos dentes, combinada com o uso adequado do fio dental, é eficaz na redução da placa bacteriana e da incidência de cárie.
Outra estratégia promissora é a terapia com probióticos e prebióticos.
A terapia com probióticos envolve o uso de microrganismos benéficos para promover a saúde oral. Probióticos específicos, como certas cepas de lactobacilos, podem competir com as bactérias cariogênicas e inibir sua atividade. Os probióticos podem modular a resposta imunológica do hospedeiro, promovendo um ambiente oral mais saudável.
Já os prebióticos são substâncias não digeríveis que estimulam seletivamente o crescimento e a atividade de determinadas bactérias benéficas. Por exemplo, alguns prebióticos têm a capacidade de modular o pH oral que pode ajudar a manter um ambiente bucal mais alcalino, dificultando a desmineralização do esmalte dentário e reduzindo o risco de desenvolvimento de cárie.
No entanto, é fundamental considerar abordagens personalizadas e adaptadas às necessidades individuais, além de promover a conscientização sobre a importância da higiene oral para a saúde bucal a longo prazo.
Estudos adicionais são necessários para aprofundar nossa compreensão das interações polimicrobianas e desenvolver novas abordagens terapêuticas para a prevenção da cárie dentária.
Exame genético de microbioma oral
Compreender essas interações e a composição de bactérias presentes na boca é crucial para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e tratamento. Ao realizar o exame de microbioma oral você pode ter informações valiosas sobre bactérias que habitam a boca e as possíveis relações com a saúde e doenças orais.
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Fontes:
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