Saiba como as dietas Low Carb e High Carb e sua interação com o microbioma intestinal afetam a glicose no sangue e quais foram os resultados promissores para o avanço da nutrição personalizada neste artigo comentado.

Por Marina Veiga da Silva Amorim
Bióloga, Mestre em Neurociências e Auxiliar em Gestão de Projetos e Clientes na BiomeHub.
Neste postblog será abordado:

Artigo comentado: Interação dieta-microbioma intestinal e seu impacto na homeostase da glicose sanguínea do hospedeiro: uma série de ensaios nutricionais n-de-1.
Controle glicêmico e alimentação
Entre as diversas preocupações associadas à adoção de uma dieta específica, um importante fator a ser considerado é como o nível de açúcar no sangue (glicemia) pode ser modificado em função da dieta escolhida. Um estudo recente realizado na China demonstrou que dietas específicas não apenas alteram e influenciam diretamente o controle glicêmico, mas também têm um impacto significativo na microbiota intestinal do indivíduo.
Pensando nisso, este estudo procurou comparar dietas de alto e baixo níveis de carboidratos. Essas dietas foram escolhidas porque permitiram explorar como diferentes proporções de macronutrientes, como carboidratos e gorduras, podem afetar a microbiota intestinal e a relação com o controle de glicose no sangue.
Dieta Low Carb ou High Carb?
Você sabe o que são as dietas Low Carb ou High Carb?
Dietas “High Carb” (HC - alta ingestão de carboidratos) são recomendadas por várias diretrizes alimentares, pois partem do princípio de que gorduras são mais calóricas do que carboidratos. No entanto, uma alimentação rica em carboidratos pode impactar negativamente os níveis de glicose após as refeições e a regulação da insulina, podendo levar a desequilíbrios metabólicos em alguns indivíduos.
Já uma dieta “Low Carb” (LC - baixa ingestão de carboidratos) poderia, teoricamente, minimizar esses efeitos, mas o impacto varia entre indivíduos. Até o momento, não há consenso sobre qual das duas abordagens é mais benéfica para a saúde metabólica.
Entendendo o estudo
Para compreender melhor se a microbiota intestinal pode ser um fator determinante na resposta de cada indivíduo a essas dietas, os pesquisadores realizaram o estudo com 30 adultos jovens, com idades entre 22 e 34 anos. Os participantes foram submetidos a dietas de HC e LC por um período de 72 dias, intercaladas com períodos de “washout” (nos quais os participantes retornavam à alimentação habitual para diminuir os efeitos residuais da última dieta consumida).

Fluxograma ilustrando o desenho do estudo dos ensaios N-of-1. Adaptado de: 10.1016/j.ebiom.2024.105483
Além de submeter cada participante às dietas específicas, também foram coletadas amostras fecais continuamente para, através da técnica de sequenciamento shotgun, identificar e analisar a microbiota intestinal. Essa abordagem permitiu identificar as variações da composição da microbiota intestinal de cada participante após a ingestão das dietas. Para o controle glicêmico, foi utilizado um sensor de monitoramento contínuo.
Por meio da análise de todos os dados coletados, os pesquisadores observaram que a resposta da microbiota intestinal à intervenção dietética variou entre os participantes, evidenciando diferenças individuais. Além disso, identificaram uma interação significativa entre a dieta rica em carboidratos (HC) e a microbiota intestinal na regulação dos níveis de glicose.
A sensibilidade glicêmica à dieta HC foi associada a uma assinatura específica da microbiota de cada indivíduo.
Com base nesses achados, os pesquisadores desenvolveram um escore de sensibilidade aos carboidratos, o qual prevê a resposta que o indivíduo poderá ter após a quantidade consumida de carboidrato.
Para aumentar a possibilidade de os achados não serem um fenômeno único observado apenas nesse estudo, foi realizada uma comparação com resultados de um banco de dados externo, que possuía 1.219 participantes. Assim, foi possível validar os biomarcadores encontrados em uma população mais ampla, confirmando sua relação com o controle glicêmico em indivíduos com hábitos alimentares ricos em carboidratos.
Espécies como Bacteroides caccae, Bacteroides thetaiotaomicron e Ruminococcus gnavus, entre outras, foram identificadas como componentes-chave nesse índice, pois desempenham papéis específicos na fermentação de carboidratos e na regulação da resposta glicêmica. Assim, com a presença desses organismos, é possível apresentar um ambiente mais adaptado a metabolizar
carboidratos e responder de forma mais estável aos níveis de glicose no sangue. Por outro lado, a baixa abundância ou ausência dessas espécies pode demonstrar maiores flutuações nos níveis de glicose no sangue.
Resultados da pesquisa
Os resultados obtidos mostraram que a microbiota intestinal desempenha um papel fundamental na resposta glicêmica à dieta, especialmente em dietas ricas em carboidratos (HC).
Seus principais achados destacam que:
A resposta glicêmica a diferentes dietas não é universal, mas sim individualizada, variando de acordo com a microbiota intestinal de cada pessoa.
A interação entre dieta HC e microbiota intestinal influencia diretamente a homeostase da glicose, podendo determinar se um indivíduo terá um melhor ou pior controle glicêmico.
A criação de um escore de sensibilidade aos carboidratos pode permitir recomendações dietéticas personalizadas, otimizando a saúde metabólica com base no perfil da microbiota.
Dietas personalizadas podem ser essenciais para a nutrição de precisão no controle glicêmico.
Pesquisas futuras podem explorar novos biomarcadores e a longa duração dos efeitos das dietas.
Esses achados são fundamentais para o avanço da nutrição personalizada, sugerindo que a eficácia de uma dieta pode depender mais da microbiota individual do que de diretrizes nutricionais generalizadas.
É importante destacar que a abordagem utilizada neste estudo se caracteriza como um ensaio n-de-1 um método no qual cada participante serve como seu próprio controle e possibilita uma análise mais detalhada das variações intraindividuais.
Dessa forma possibilita-se recomendações dietéticas altamente personalizadas, aumentando a eficácia das intervenções nutricionais para controle da glicemia e prevenção de doenças metabólicas como, por exemplo, diabetes tipo 2.
Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.
Ficou com alguma dúvida? Nossa equipe está aqui para ajudar! Entre em contato conosco e receba a ajuda que precisa.
Leia também: Microbioma intestinal e controle glicêmico
Referências:
Fu, Yuanqing et al. “Diet-gut microbiome interaction and its impact on host blood glucose homeostasis: a series of nutritional n-of-1 trials.” EBioMedicine vol. 111 (2025). doi:10.1016/j.ebiom.2024.105483