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A interação entre o microbioma oral e a saúde intestinal

Atualizado: 18 de jan de 2023

Existem fortes evidências que sugerem uma ligação entre o microbioma oral e a saúde intestinal.

Veja também: Conhecendo as bactérias da microbiota intestinal.

Quem diria que as bactérias presentes na boca poderiam afetar o equilíbrio do microbioma intestinal? Algumas espécies de bactérias orais conseguem resistir a ação do ácido gástrico presente no estômago e chegam ao intestino, enquanto outras entram na corrente sanguínea e avançam para o cólon.

As bactérias mais prevalentes na cavidade oral são membros dos filos Firmicutes, Proteobacteria e Actinobacteria. No entanto, ao contrário do intestino, o ecossistema bacteriano oral é relativamente estável e não está sujeito a mudanças significativas. Algumas bactérias orais, como Porphyromonas gingivalis , estão associadas à disbiose intestinal.

Na boca, essas bactérias que causam periodontite - uma inflamação e infecção das gengivas -, mas também estão ligadas a uma série de doenças graves associadas ao desequilíbrio no microbioma intestinal. Isso ocorre pois existe a possibilidade de bactérias associadas a cáries e doenças da gengiva chegarem ao intestino e afetarem o equilibrio do microbioma intestinal.


O microbioma intestinal

O microbioma intestinal é um ecossistema complexo que consiste principalmente de bactérias que vivem em harmonia com o corpo humano. Esse microbioma fornece uma série de benefícios, como:

  • fortalecer a barreira intestinal,

  • apoiar o sistema imunológico,

  • fornecer energia e

  • protegê-lo de patógenos oportunistas que podem deixá-lo doente.

É importante entender que a microbiota intestinal é composta por microrganismos que convivem conosco de forma harmoniosa e que até podem nos fazer bem quando mantidos em equilíbrio (chamados de simbiontes ou comensais). A função adequada da microbiota intestinal depende de uma composição estável.

Mesmo que o intestino tenha uma série de barreiras para impedir a entrada de patógenos, como ácido gástrico presente no estômago, bactérias probióticas e células imunológicas, as bactérias da microbiota oral ainda podem entrar e desequilibrar esse ecossistema. Quando a microbiota intestinal está desequilibrada, isso é conhecido como disbiose e está relacionado a uma série de problemas de saúde.


Como as bactérias da microbiota oral conseguem chegar até o estômago e intestino?

A saliva é o principal transportador de bactérias orais. Composto por 98% de água, as glândulas salivares humanas podem produzir até 1,5 litros por dia. Este líquido essencial mantém a boca hidratada e ajuda a digerir os alimentos.

As bactérias orais podem ser carreadas pela saliva e se espalhar por todo o corpo, incluindo o intestino. Pessoas com doenças na gengiva podem engolir uma grande quantidade de Porphyromonas gingivalis todos os dias. Esta bactéria é particularmente resistente a condições adversas porque pode resistir à acidez do estômago e chegar ao intestino. Aqui, ela pode acionar o sistema imunológico e promover inflamação, os quais podem alterar a composição do microbioma intestinal, resultando em disbiose.

Em algumas doenças graves, quantidades aumentadas de bactérias orais foram observadas no intestino, sugerindo que há uma ligação entre os dois. Em particular, medicamentos para refluxo gástrico crônico, chamados inibidores da bomba de prótons (IBP), também podem facilitar a passagem de microrganismos da boca para o intestino, pois reduzem a produção de ácido gástrico considerado uma barreira microbiana importante.


Microbiota oral e a barreira intestinal

O funcionamento adequado da microbiota intestinal depende de uma composição estável. Logo, uma alteração entre os diferentes grupos de bactérias presentes na microbiota ou a proliferação de novos grupos bacterianos podem levar a um desequilíbrio da mesma.

As bactérias da microbiota intestinal ficam restritas ao intestino graças a uma parede impermeável de células que impede que elas escapem e caiam na corrente sanguínea. Há situações em que a membrana que protege o intestino fica danificada (ou permeável), permitindo que substâncias tóxicas e bactérias intestinais caiam na corrente sanguínea.

O desequilíbrio da microbiota intestinal acarreta uma cascata de alterações nas funções do organismo que antes atuavam de forma harmônica, levando a processos inflamatórios, e consequentemente, favorecendo a permeabilidade intestinal.

Um estudo mostrou que uma única administração de P. gingivalis altera significativamente a composição do microbioma intestinal e afeta a função e integridade da barreira intestinal.

O que isso significa para o seu intestino? Quando o revestimento intestinal é comprometido, nossos microrganismos intestinais podem escapar e acabar em locais a que não pertencem, como outros órgãos. À medida que se acumulam nessas áreas, as toxinas e metabólitos secretados podem levar à reações inflamatórias que danificam os tecidos e levam ao desenvolvimento de condições crônicas.


O papel da disbiose oral e outras doenças

A disbiose oral também está associada a outras doenças crônicas, incluindo a artrite reumatóide. Os mecanismos pelos quais esta doença e a periodontite estão ligadas são semelhantes, pois as bactérias patogênicas causam inflamação e perda óssea.

Alguns estudos mostraram que o desequilíbrio da microbita intestinal e oral estão intimamente relacionados ao desenvolvimento de doenças hepáticas. Ao comparar a composição dos microbiomas intestinais de pessoas saudáveis ​​e aquelas com cirrose hepática, constatou-se que as últimas apresentam altos níveis de bactérias orais em seus intestinos.

Em última análise, uma grande abundância de bactérias da microbiota oral no intestino pode ter consequências negativas para a saúde.

Felizmente, adotar uma boa higiene bucal pode ser positivo tanto para sua saúde bucal quanto para a saúde em geral.

Existem dentistas de planos odontológicos que sabem identificar o surgimento de tais bactérias e conseguem reconhecer como elas podem interferir em todo o processo da saúde da boca e do corpo.

Por isso, se faz necessário não só os cuidados que temos em casa, mas também o acompanhamento regular de um profissional. É ele quem poderá identificar quando algo não está indo bem da nossa boca e indicar os melhores tratamentos e precauções.

Você pode encontrar um dentista especializado através de convênios odontológicos, por exemplo, ou procurar por profissionais clínicos. O importante mesmo é não esquecer de fazer sempre um acompanhamento da sua saúde bucal.

Além disso, a ingestão de uma dieta saudável (e, portanto, fibras e nutrientes dietéticos) ajudará a manter as bactérias intestinais que promovem a saúde. Isso aumentará a atividade das bactérias, fortalecerá a barreira intestinal e apoiará o sistema imunológico.

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