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Os mitos sobre o microbioma humano

homem em dúvida

O microbioma humano está, cada vez mais, atraindo pesquisadores e jornalistas para divulgarem suas recentes descobertas. Entretanto, juntamente com informações valiosas sobre as relações do microbioma humano com diversas doenças e a promoção da saúde, encontramos também conceitos equivocados que podem distorcer a interpretação e a expectativa em relação à sua aplicação.


O mundo do microbioma também está repleto de fake news que se tornam verdades absolutas depois de tantas vezes que são repetidas. Em um artigo recentemente publicado, os microbiologistas Alan Walker e Lesley Hoyles ressaltam que:


Dada a importância potencial dos microbiomas humanos para a saúde, é crucial que as afirmações fundamentem-se em evidências.


Vejamos alguns dos principais mitos sobre o microbioma:

1. O estudo do microbioma está em sua infância ❌


A pesquisa sobre a associação dos microrganismos aos seres humanos vêm crescendo desde o final do século XIX e explodiu nos últimos 15 anos. Da mesma forma, termos e conceitos como o eixo intestino-cérebro têm sido objeto de pesquisa por séculos.


Além disso, o termo microbioma não foi inventado por Joshua Lederberg em 2001, como afirmam muitos artigos, pois ele já estava em uso por pelo menos uma década antes disso para inferir um nicho ecológico muito pequeno que incorporava a vida vegetal e animal. Metchnikoff especulou sobre a importância de microrganismos benéficos no intestino no início de 1903.


Da mesma forma, conceitos como o eixo intestino-cérebro têm sido pesquisados há séculos e os impactos de metabólitos, como os ácidos graxos de cadeia curta, associados ao microbioma na saúde humana, foram relatados pela primeira vez há mais de 40 anos.



2. Nossas bactérias pesam de 1 a 2 kg ❌

microbiota intestinal

Ainda que diversos artigos citem essa informação, não foi encontrada nenhuma referência sobre este dado. Os autores afirmam que: A maioria do microbioma humano reside no cólon, e esses microrganismos normalmente representam menos da metade do peso das fezes.


É mais provável que o microbioma humano total pese menos de 500 gramas, e o microbioma intestinal cerca de 200 gramas, equivalente a uma manga.



3. As bactérias do corpo humano superam as células humanas

O mito de que nossos corpos têm uma proporção de 10:1 de bactérias para células humanas (e outros microrganismos) persiste desde a estimativa realizada em 1972 pelo microbiologista Thomas Luckey.


Análises mais detalhadas indicam que o verdadeiro número, embora ainda impressionante, provavelmente está mais próximo de uma proporção de 1:1, afirmam alguns autores. Essa proporção também pode variar de pessoa para pessoa, sendo influenciada por alguns fatores, como gênero, idade e obesidade.


Além disso, as estimativas atuais são em grande parte baseadas em indivíduos adultos que vivem em países urbanizados de alta renda, e não é claro se estas estimativas também se aplicam a pessoas em ambientes rurais ou a diferentes grupos etários. Dados anteriores também estimavam o número de bactérias no cólon em cerca de 10^14. O fato é que há entre 10^10 e 10^11 células bacterianas por grama de fezes.



4. A maioria das doenças é caracterizada por uma microbiota alterada ou disbiose

É comum ler na literatura científica que a maioria das doenças é causada por um microbioma alterado. Por exemplo, um desequilíbrio na proporção entre os filos Firmicutes:Bacteroidetes, que compreendem os dois maiores filos que formam o microbioma intestinal humano, tem sido repetidamente apontado como um indicador da obesidade. No entanto, a reprodução desses estudos em humanos ainda é falha.


Os termos disbiose e patobioma foram criados para definir um perfil de microbioma ruim em termos de composição e/ou funções que precisa ser revertido por meio de dieta e outras intervenções para melhorar a saúde. Os autores reconhecem que o termo disbiose é "vago, com aplicabilidade clínica limitada" e o termo patobioma é "excessivamente simplista e intrinsecamente falho".


A realidade é que microrganismos e seus metabólitos não são bons nem ruins, eles simplesmente existem, explicam os autores. Embora quase todas as condições tenham sido associadas a uma disbiose, é difícil saber qual veio primeiro, o ovo (um microbioma alterado) ou a galinha (a doença ou condição).



5. O microbioma é principalmente herdado da mãe no nascimento

Embora alguns microrganismos sejam transferidos diretamente da mãe para o bebê durante o parto, poucas espécies da microbiota são consideradas hereditárias e persistem do nascimento à idade adulta.


O ambiente, a dieta, os antibióticos e os genes têm uma influência mais relevante na formação do microbioma do que os microrganismos da mãe.



6. A composição do microbioma intestinal é diferente entre as pessoas, enquanto suas funções são semelhantes

Os cientistas inferem as funções do microbioma comparando os genomas dos microrganismos com bancos de dados de referência. A ressalva é que essa análise deixa de fora uma grande quantidade de dados genômicos que não correspondem aos bancos de dados de referência, falhando em explorar funções menos caracterizadas do microbioma.


A verdade é que algumas funções são mantidas em diferentes espécies do microbioma humano (por exemplo, produção de ácidos graxos de cadeia curta), enquanto outras funções são realizadas apenas por um pequeno número de microrganismos (por exemplo, digestão de amido resistente).



Tem se tornado cada vez mais evidente que os microrganismos que vivem em nós, e sobre nós, são importantes para nossa saúde e representam uma maneira potencialmente distinta de abordar diferentes condições e doenças.


No entanto, é difícil manter-se atualizado com o grande número de estudos científicos na área. E mais importante ainda, o artigo de perspectiva publicado por Walker e Hoyles mostra que, interpretar a ciência do microbioma requer uma boa dose de curiosidade e ceticismo.





Fonte:


Walker, A.W., Hoyles, L. Human microbiome myths and misconceptions. Nat Microbiol 8, 1392–1396 (2023). https://doi.org/10.1038/s41564-023-01426-7

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