Não é novidade que a dieta é a forma mais poderosa de manter a microbiota intestinal saudável. Pessoas com problemas gastrointestinais às vezes tentam dietas extremas, com o objetivo de melhorar a saúde. No entanto, é necessário cuidado, pois nem todas as dietas melhoram as bactérias benéficas em seu intestino.
A dieta influencia a atividade metabólica e a composição da microbiota intestinal, tendo um efeito sobre as respostas imune e inflamatórias, com consequências para a saúde. Em uma dieta com pouco consumo de fibras a microbiota intestinal passa a degradar o muco presente na barreira intestinal aumentando a susceptibilidade a patógenos.
Esse tema tem sido alvo de inúmeros estudos nos últimos anos, inclusive entre os atletas de alta performance, e hoje se sabe que um dos fatores principais que regulam a composição e fisiologia da microbiota intestinal são os carboidratos presentes no intestino e provenientes da dieta ou do muco intestinal.
O papel das diferentes dietas na saúde intestinal
O que você come tem uma grande influência na composição e nas funções da microbiota intestinal e, em última instância, nossa saúde. Estudos mostram que uma dieta mediterrânea à base de vegetais, caracterizada por maior ingestão de proteína vegetal em vez de animal, foi reconhecida como a melhor dieta com base científica para melhorar a saúde intestinal.
Em contrapartida, dietas desequilibradas e extremas podem afetar a absorção de carboidratos acessíveis à microbiota (CAMs). Este é o caso da dieta ocidental (rica em proteína e gordura animal, baixa em CAMs, que tem sido associada a um baixo número de genes microbianos intestinais, sinal considerado marcador de uma microbiota intestinal alterada. A restrição de CAMs compromete a integridade da barreira intestinal, interferindo nas trocas consideradas saudáveis para o organismo em termos de absorção.
Da mesma forma, uma alta ingestão de proteínas de origem animal aumenta a fermentação delas no intestino grosso e provoca um impacto além do intestino. Os padrões alimentares que são ricos em proteínas animais têm sido associados a mudanças desfavoráveis na microbiota intestinal, maior risco cardiovascular no longo prazo e, aumenta o risco de desenvolver várias doenças metabólicas e surgimento de câncer, principalmente de intestino, fígado e estômago.
No entanto, escolhas dietéticas extremas não são necessariamente inadequadas para todos. Cada vez mais esse estilo de alimentação vem ganhando adeptos entre atletas amadores ou profissionais. Por exemplo, o atleta Alessandro Silva de Medeiros, 51, está morando fora do Brasil há alguns anos, e desde que decidiu modificar sua alimentação - hoje se alimenta única e exclusivamente de carnes, vísceras e proteínas animais - com auxílio de sua nutricionista Letícia Moreira, vem relatando uma melhora na sua performance. Ele tem uma rotina intensa de treinos e é o primeiro atleta no mundo a fazer 100 milhas sendo carnívoro.
O Alessandro possui uma microbiota em equilíbrio, mesmo se alimentando conforme tudo que já sabemos estar relacionado a desequilíbrio da microbiota intestinal. Em sua passagem pelo Brasil, o Alessandro realizou o PRObiome - exame de microbiota intestinal - que revela o desequilíbrio ou equilíbrio dentre todos os microrganismos presentes na nossa microbiota intestinal. Quando em desequilíbrio, este exame consegue fazer relações entre o estado de saúde do paciente, sintomas, sinais, alterações inclusive de comportamento, comportamento alimentar, perfil inflamatório ou anti-inflamatório, doenças existentes ou predisposição para tais doenças, devido ao perfil de microrganismos presentes na coleta de suas fezes.
"O alto consumo de carnes vermelhas, carnes, gordura saturada e baixo consumo de fibras é o principal fator a ser relacionado a doenças inflamatórias intestinais, doenças coronárias, doenças metabólicas e surgimento de câncer, principalmente de intestino, fígado e estômago. Mas aqui fica um sinal de alerta: dentro das especificações individuais de cada doença, vale lembrar que o consumo de proteína animal pode ser amplamente indicado, visto que são proteínas completas, assim como a gordura saturada já é aliada inclusive dentro do tratamento de pacientes com doenças coronárias. E a ressalva é exatamente essa: é a sua equipe médica que vai te orientar quanto à individualidade do seu caso" analisa Taise Spolti em seu texto no blog Viva Bem.
"Eu sempre digo que eu era um atleta 'doente', inchado, inflamado, com fadiga crônica e com dores musculares intermináveis e hoje sou um atleta com saúde. Estou chegando a aproximadamente 30 anos de esportes de endurance e posso afirmar que estou aí na minha melhor forma física e mental. Não me recordo da última vez que fiquei doente, nunca parei de treinar e trabalhar na pandemia e até o momento não tive o covid. O humor não sofreu nenhuma alteração e o sono é totalmente reparador (no início da readaptação pode ter sim alterações acredito muito pela produção dos corpos cetônicos)" relata Alessandro.
Desde que alterou sua dieta, Alessandro vem atingindo seus melhores resultados comprovando que a individualidade deve ser sempre respeitada para que o melhor de cada organismo seja otimizado, sempre de forma individualizada e personalizada, concluiu a nutricionista Taise Spolti.
Independente da dieta escolhida para seguir, qualquer que seja o objetivo, tratamento, perfil atlético, o indivíduo deve sempre buscar pelo auxílio profissional, como o Alessandro. Antes de restringir qualquer alimento ou mudança radical de hábito alimentar é importante conhecer a real relação que o seu organismo tem com cada nutriente.
Dessa forma, antes de eliminar completamente um grupo de alimentos, o recomendado é ter o direcionamento de um nutricionista ou nutrólogo para conhecer a especificidade do seu caso e adequar sua alimentação, de acordo com a sua identidade intestinal.
Quer saber mais sobre o caso do Alessandro e sobre a opinião da nutricionista Taise Spolti? Leia a matéria completa em https://www.uol.com.br/vivabem/colunas/chef-funcional/2022/08/14/quebrando-mitos-a-individualidade-da-dieta-carnivora-em-um-atleta.htm
* Todas as fotos usadas nesse blog foram liberadas pelo Alessandro e a sua equipe.
Fontes:
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