Artigo comentado: Robust variation in infant gut microbiome assembly across a spectrum of lifestyles.
Um estudo recente mostrou que o estilo de vida pode influenciar a microbiota intestinal desde o início da vida. Vem ler!
Sabe-se que o microbioma intestinal humano sofre um complexo processo de formação imediatamente após o nascimento. Os novos microrganismos que tentam se estabelecer nessa comunidade geralmente dependem das espécies colonizadoras anteriores. Assim, a composição final do microbioma adulto pode depender das espécies adquiridas no início da vida.
A imagem a seguir ilustra a formação da microbiota ao longo da vida. Este é um processo dinâmico que passa por uma sucessão progressiva de microrganismos característicos em cada idade e pode ser modulada por fatores internos e externos.
Veja também: Da gestação à primeira infância: fatores que influenciam o desenvolvimento da microbiota intestinal.
A formação do microbioma infantil tem sido intensamente estudada em bebês de nações industrializadas, mas pouco se sabe sobre esse processo em populações não industrializadas. Algumas comparações previamente realizadas com populações com diferentes estilos de vida mostram que esse fator afeta mais a composição da microbiota que a proximidade geográfica. E que o microbioma de crianças que vivem em países industrializados difere de outras já nos primeiros 6 meses de vida.
Evidências sugerem que mais espécies são perdidas do que adquiridas à medida que os estilos de vida se industrializam. Um exemplo é o da espécie Bifidobacterium infantis, que é um consumidor de oligossacarídeos do leite humano, e é predominante nos primeiros 6 meses em bebês que vivem estilos de vida não industriais.
Porém, essa espécie está significativamente depletada do microbioma de bebês de 0 a 6 meses, mesmo que amamentados, em populações industrializadas, e encontrada em níveis intermediários em populações em transição.
Nesse cenário, um grupo de pesquisa da Escola de Medicina da Universidade de Stanford realizou o sequenciamento metagenômico de amostras fecais infantis de um grupo de caçadores-coletores modernos da África Subsaariana, os Hadza. As crianças Hadza são amamentadas no início da vida e desmamadas para uma dieta de pó de baobá e carne pré-mastigada por volta dos 2 a 3 anos de idade.
Com a análise das amostras fecais, os pesquisadores observaram que cerca de 20% das espécies detectadas nas crianças Hadza representam novas espécies, indetectáveis em amostras de crianças urbanizadas. Além disso, avaliando amostras fecais das mães dessas crianças foi possível verificar uma transmissão vertical de cepas, incluindo entre membros do mesmo acampamento, sendo esse um possível mecanismo pelo qual a mudança da microbiota é propagada ao longo de gerações em resposta a estilos de vida diferentes.
Esses achados exemplificam a importância de estudar as pessoas fora das nações industrializadas e destacam a necessidade de estudos para compreensão dos microbiomas nas sociedades globais. Ainda, os pesquisadores suspeitam que tais diferenças na microbiota tenham implicações funcionais para a saúde das crianças em desenvolvimento.
Os exames que possibilitam a identificação das bactérias presentes na microbiota intestinal através do sequenciamento de DNA, como o PRObiome, podem ser correlacionados com as informações clínicas, auxiliando na conduta personalizada dos pacientes. Além disso, podem auxiliar no acompanhamento frente às terapias e estratégias de modulação da microbiota intestinal.
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Fonte:
Olm MR, Dahan D, Carter MM, et al. Robust variation in infant gut microbiome assembly across a spectrum of lifestyles. Science. 2022;376(6598):1220-1223. doi:10.1126/science.abj2972